Wednesday, March 23, 2011

Síndrome de Burnout põe educação em risco

No fim da década de 1990, o professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Wanderley Codo, promoveu um estudo, considerado único no Brasil, tanto pelo aprofundamento como pela extensão, sobre uma doença que leva o docente a perder o sentido de sua relação com o trabalho.

O professor da UnB e a equipe que participou do trabalho constataram que mais do que um sintoma do estresse, a Síndrome de Burnout é uma epidemia que, no fim da década de 1990, atingia 48% dos 52 mil professores investigados em 1.440 escolas espalhadas nos 27 estados da Federação brasileira.

A partir das análises decorrentes da pesquisa – o que pode ser conferido no livro “Educação: carinho e trabalho”, Ed. Vozes – o pesquisador afirma que essa doença pode até a vir a destruir a educação brasileira. O principal sintoma é a desistência. O docente desiste da profissão e passa a exercê-la sem interesse, “de forma que as coisas já não o importam mais e qualquer esforço lhe parece ser inútil”.

O esgotamento profissional e o estresse provocados pelo não-reconhecimento do profissional, pelas condições precárias de trabalho, pela desvalorização salarial são alguns dos elementos que mantêm viva a Síndrome da Desistência (burnout).

Segundo Codo, o INSS quer transformar a síndrome em doença profissional. “Se acontecer isso, o professor vítima de burnout vai ser afastado da profissão e, de burnout, ele passará a ter depressão, visto que a doença é provocada pela ausência do controle sobre o trabalho que desenvolve, ou seja, ele vai piorar”.

Preocupado com os encaminhamentos do governo para o problema de burnout no Brasil, o professor ressalta que, além de salário digno, condição de trabalho decente, reconhecimento profissional, o docente precisa de carinho para superar a doença e exercer o magistério. Tanto é que em alguns países, professor tem título de nobreza”, diz Codo.

Fruto de uma parceria entre a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e o Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB, a pesquisa – que relata as condições de trabalho e saúde mental dos trabalhadores em educação do ensino fundamental e médio da rede pública do país – foi executada entre 1996 e 1998. Até hoje nenhuma política pública foi elaborada para resolver o problema.

Outra pesquisa, também realizada no Instituto de Psicologia da UnB pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite sob a coordenação do professor Codo, que analisou 8.744 questionários respondidos por professores da região Centro-Oeste, indica que 15,7% dos professores de ensino fundamental e médio são vítimas dessa síndrome.